19/10/18

Consolação da Filosofia, Boécio


Um desses ímpetos liceais levou-me a ler as "grandes obras filosóficas" cronologicamente. Já não tenho a desculpa de andar no liceu e já deveria saber que não se entende o universo com listas de livros; mas sou apenas um homem, o que desculpa qualquer defeito.

A leitura da filosofia foi-se atrasando, porque me apercebi da necessidade de ler livros para entender os livros que queria ler (A Bíblia, alguma poesia épica, livros de história, etc.); e porque comecei a ler outros livros para suprir necessidades diferentes (como os 12 deliciosos volumes de A Dance to the Music of Time). Um ano e meio mais tarde, ainda estou no século VI.

O livro é uma mistura de diálogo platónico (um diálogo platónico em que Górgias concorda sempre com Sócrates) e poemas à Lucrécio; aprendi no prefácio que isto se chama um prosimetrum. Está bem inventado. 

Começa muito bem a negar coisas. (Tenho reparado que os filósofos sabem muito bem o que não é, depois perdem-se um bocado na outra parte. S. Agostinho é engraçado e engenhoso quando está a refutar Porfírio, Varrão, etc, mas torna-se aborrecido quando começa a descrever a gloriosíssima Cidade de Deus; o engenho está lá, o meu entusiasmo nem por isso.) Fala muito bem do que não é o sumo bem, mas o sumo bem dele não me deixou contente. 

É uma obra que pretende consolar o homem preso em Pavia que a escreveu. A mim deu o que eu podia receber: prazer na leitura.

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