16/10/18

Um celibatário, Emmanuel Bove


(...) a arte está no extremo oposto ao das ideias gerais, só descreve o individual, só deseja o único.

Marcel Schwob

Procurei este livro na biblioteca depois de um autor, que só tinha dito disparates até àquele momento, recomendar Bove, descrevendo a sua atenção ao pormenor com uma convicção que despertou a minha curiosidade. Até os piores acertam. 

É um romance que vem comprovar a minha teoria de que os franceses casam para poderem ser adúlteros. Esta teoria é confirmada pela literatura, sublinhada pelo cinema e, menos interessante, pela realidade. (Ouvi de fonte legítima, num café, que é o país com maior número de adultérios, facto que repito com números que variam consoante as necessidades retóricas.) 

Há então vários adultérios: aludidos, efectivos e tentados; o nosso modesto herói, Guittard, fica-se pelas tentativas. Guittard é um homem mesquinho, orgulhoso e absolutamente normal; folgado de tempo, esmera-se nesses subtis planos, cuja subtileza só se revela quando são frustrados, e que só uma sageza ex post facto justifica. Psiquismo curioso esse: interessa-lhe tanto não ser enganado que se engana a si mesmo.

Acaba por tropeçar até à felicidade possível para um francês que não consegue ser adúltero.

5 estrelas

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