Perchi' I' no spero di tornar giammai
Guido Cavalcanti
No poema Glosa a Guido Cavalcanti, Jorge de Sena descreve o seu exílio, somando distâncias imensuráveis:
Porque não espero de jamais voltar
à terra em que nasci; porque não espero,
ainda que volte, de encontrá-la pronta
a conhecer-me como agora sei
que a conheço…
Peregrinatio ad loca infecta não seria um mau título para este filme. José Oliveira parece querer mostrar a Braga idolátrica, mas também a menos conhecida Braga profana.
Roberto, uma personagem bukowskiana, volta a casa e observa a cidade com um conhecimento antigo (consciência da história da cidade e as suas memórias pessoais) que o afasta do moderno. O resultado é uma série de vinhetas com referências edificantes ao Mosteiro de Tibães e à Cairense, uma famosa casa de putas; algumas cenas com música ao vivo à Kaurismäki; diálogo castiço; algumas cenas contemplativas com motivos religiosos e rememorativos; e um enredo geral que é menor e menos interessante que as partes já referidas.
Gostei muito de ver Braga num filme, por razões inteiramente pessoais; e parece-me que José Oliveira precisava de ver Braga num filme, por razões inteiramente pessoais. O filme acaba com as folhas, que Roberto usou para escrever sobre a sua peregrinação a Braga, a arder, prefigurando um futuro livre das ideias que o atormentavam. Quero ver o próximo filme.
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