26/09/20

Old Joy - Kelly Reichardt




This term [liminality], literally "being-on-a-threshold," means a state or process which is betwixt-and-between the normal, day-to-day cultural and social states and processes of getting and spending, preserving law and order, and registering structural status. Since liminal time is not controlled by the clock it is a time of enchantment when anything might, even should, happen.

Victor Turner

Kurt não causa uma boa primeira impressão; o aspecto socrático, a camisa mal abotoada, e o carrinho cheio de lixo são indicadores de que alguém nos vai pedir um cigarro. Mark parece uma pessoa normal, com um Volvo, uma cadela, uma família e as várias práticas terapêuticas que suportam a normalidade. Conseguimos imaginar aquele como o antes e este como o depois, num anúncio de um livro de auto-ajuda. 

O contraste entre as duas personagens é emulado na encenação: Mark a tentar meditar, o pássaro em cima de um fio de electricidade; as botas de Kurt, as New Balance de Mark; o comentário político na rádio de Mark, as conversas filosófico-janadas de Kurt. Tudo aponta para um contraste em que a condescendência vence. Não totalmente. 

A viagem à  floresta é para Mark terapia (shinrin-yoku, chamam-lhe), mas para Kurt é algo mais: quer recuperar algo ou encontrar algo novo que valha a pena.

Mark é um membro útil da sociedade, que vê em Kurt uma versão infantil de si mesmo, mas é desarmado pela sinceridade de Kurt. Kurt parece estar à espera de um epifania maior, enquanto vai coleccionando epifanias menores induzidas por drogas, mas é mais seguro justificar a sua inadequação pela sua decência fundamental do que pelas razões aparentes. 

Em Wendy and Lucy, Reichardt também explora uma personagem que não se ajusta aos padrões da comunidade. Wendy opta pela fuga. Kurt, no entanto, parece estar preso num espaço liminar em que a fuga não é possível.

Sem comentários:

Enviar um comentário